Pular para o conteúdo principal

O documentarista Júlio Silvão


O pai de todos os Silva, meu querido amigo Júlio Silvão, é guerreiro. Presidente da Associação do Cinema e do Audiovisual de Cabo Verde, leva esta arte para o povo nas comunidades, via projetos que formam crianças e jovens a partir de projeções onde estabelece um contato mais direto com a sociedade.
Documentarista, tem um olho clínico para os acontecimentos a sua volta, não desperdiçando e nem dispersando sua percepção com o que considera sem sentido. Amante de sua pátria, ele se coloca diariamente o desafio de conduzir os seus projetos, a maioria dos quais, de natureza social.
Silvão tem um jeito próprio de ser, sempre de alpercatas e com roupas de cor caqui e ainda um boné que protege a sua cabeça deste sol quase infernal que faz do cabo-verdiano um ser de uma força exemplar quando se dedica ao trabalho, na maioria das vezes, andando á pé, encontrando amigos nas ruas, reconhecendo-lhes e se reconhecendo neles, dando-lhes a atenção que um bom amigo requer, como por exemplo aconteceu no encontro que tivemos com o radio jornalista Santos Nascimento, da Rádio Nacional, com quem marcamos entrevista para sexta, 21.
Júlio é um parceiro. Esta tarde, após a reunião que tive a honra de participar com os coordenadores e organizadores do PLATEAU, ao qual fui convidado, tornando-me também um de seus pensadores e palestrantes, saímos em direção à sede da Associação, um prédio que foi doado pela Câmara Municipal e que está na fase final para garantir a inauguração oficial no âmbito do Festival que Júlio também coordena, ao lado de vários parceiros como Guenny Pires, Ian Santos, José Eduardo, César Schofieldi, entre outros.
Na Associação Júlio revelou porque me convidou para vir cá – a Cabo Verde – afirmando que meu nome fora lembrado por algumas pessoas, em função das atividades que aqui desenvolvemos na área do cinema e da poesia, razão pela qual também ele considera importante que parcerias sejam estabelecidas entre o cinema de Cabo Verde e o cinema brasileiro, particularmente o paraense.
A começar pelo próprio Arcebispo-Adjunto de Belém ser cabo-verdiano, Silvão me disse que há vários links que permitem cruzar os dos países a partir de uma imaginária linha poética e estética que começa na Praia e acaba em Belém do Pará. Júlio, inclusive, está rodando um filme sobre tráfico de drogas que parte do Pará em direção aos Estados Unidos, com utilização de Cabo Verde como teatro de operação.
Depois da Associação fomos até a Livraria Cardoso, onde aliás farei, nesta segunda, dia 24/11, ás 18hs, uma fala sobre o poeta luso-moçambicano Sebastião Alba. Tomamos café e de seguida nos despedimos , combinando de nos rever amanhã e continuar a prosa e o trabalho. Eu fui então jantar no mesmo restaurante que almocei, o Panorama, que fica no centro das Praia, bem no Plateau, que é uma espécie de coração da Ilha de Santiago.
Sozinho, a escrever os textos que já foram publicados na Fã-Page da TRIBUNA DO SALGADO, tive a agradável surpresa de ler no cardápio entre os pratos possíveis de ser solicitados, o sagrado (e acebolado) Bife (suculento) de atum – fresco, alimento que não degustava há sete anos, tempo que me retirei desta cidade, em 2007.
Depois de comer todo o atum, vim ter com meus amigos do Pelouro da Cultura, na Câmara Municipal da Praia, entre estes meu ex-aluno José Eduardo, hoje diretor de cultura da Casa. E agora ao finalizar esta escritura memorialista, aguardo outro parceiro, este com quem encontrei esta manhã, o Amilcar Aristides.
É, os dias e as noites estão a ser intensas. E isso me faz lembrar o Sério Fernandes, meu grande mestre de cinema, com quem aprendi demasiado. Sério sempre dizia que Cabo Verde é a terra da saudade. E tem sentido. Sinto saudade de dizer aos meus alunos quando a estes ministrava aulas aqui na Ilha de Santiago que eles percebessem que ao fazer um simples trabalho acadêmico para uma disciplina, eles também estavam a construir o futuro deles próprios e do país que tanto amam.
Sempre lhes dizia estas palavras, estimulando-as a que agissem nos seus trabalhos como se estivessem a mudar a sua pátria, se amavam, que fossem rigorosos e pensassem que muito breve seriam chamados para responsabilidades sociais.

©Carpinteiro

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

COM APOIO DA JUVENTUDE PERIFÉRICA, EDUCADORA SOCIAL NEGRA PLEITEIA PREFEITURA DE BELÉM

A eleição de Wellinta Macedo vai mudar o cenário político e social de Belém do Pará, com a proposta de uma gestão responsável, transparente e democrática, atenta à demandas das classes exploradas e excluídas. Uma simples olhada na sua minibiografia política, social e cultural revela que Wel – como é carinhosamente conhecida – vai fazer a diferença nestas eleições. Mãe- solo, tem dois filhos, Ernesto e Leon, ambos estudantes de escola pública, esta mulher negra, periférica, é educadora social, jornalista, crítica e atriz, além de militante dos movimentos de mulheres e movimentos negros e culturais. Ela milita há 17 anos no PSTU, tendo colocado seu nome à disposição do partido em duas campanhas, tendo sido candidata à vereadora, em 2016, e à deputada Federal, em 2022. No Movimento Negro, constrói o Quilombo Raça e Classe Nacional, sendo que, desde 2013, realiza a Marcha da Periferia, em alusão ao Novembro Negro na Terra Firme. Ela também participa de rodas de conversas, mesas

Fórum COP30 da Marambaia realizará primeira reunião na Gleba 1

A comunidade do bairro da Marambaia toma para si as rédeas dialógicas sobre as questões climáticas ambientais que têm sido pautadas pelas diversas nações assinantes da Convenção-Quadro da ONU sobre mudança climática. Avaliar a situação das mudanças climáticas no planeta implica também RE-conhecer e respeitar as realidades locais como estratégia Amazônica sobre mudança climática. Mais que estabilizar a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera que constitui grande ameaça climática planetária, a Marambaia quer desenvolver metodologias alternativas de participação popular neste processo. A Marambaia é um dos bairros mais arborizados de Belém, em razão da sua privilegiada localização, com florestas, rios, igarapés, canais, além das dezenas de praças dos conjuntos habitacionais edificados no bairro. As diversas estruturas hoje existentes na comunidade resultam de lutas populares por melhores condições de vida e trabalho com dignidade, do mesmo modo, a pujante cena cultural local reflet

Pela construção do OBSERVATÓRIO & FESTIVAL DOS FESTIVAIS DE CINEMA DA AMAZÔNIA PARAENSE

Estamos juntos, mas nem sempre misturados, porque somos diferenciados em nossas pautas e nos encaminhamentos com relação ao confronto com o mercado. Há muitos debates importantes ao movimento audiovisual da Amazônia Paraense. E o momento de aprofundarmos esta discussão, por exemplo, sobre políticas públicas audiovisuais, política de editais, a maioria voltados para fortalecer o cinema de mercado.  São políticas editais excludentes, conceitualistas, curatoriais, cheios de artimanhas contemporâneas que criam uma onda em favor de um tipo de arte, apagando e excluindo o que se produz fora deste eixo do mercado. E esta questão se coloca como um divisor de águas. Quanto de dinheiro tem para o cinema da Amazônia?  E quanto deste dinheiro vai financiar o cinema de mercado>? Quanto vai ter de dinheiro para quem não é empresário do cinema e do audiovisual? Para quem cria e faz cinema comunitário, nas periferias e comunidades tradicionais e quilombolas e indígenas, cinema nos movimentos sociai